A irracionalidade do automóvel

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– Muitos de nos vivemos em cidades travadas, onde usar a palavra trânsito é incidir numa contradição, afinal, tudo que não se faz é transitar.

– Repetimos à exaustão: “Por que não se investe em transporte coletivo?”.

– Periodicamente, as grandes cidades batem recordes de engarrafamento, tornando-se lugares altamente poluídos, torrando milhões e esvaziando tanques de combustível sem sair do lugar.
– O caso do transporte nas metrópoles demonstra como determinados conceitos culturalmente arraigados afirmam-se, contra toda racionalidade. Afinal, como justificar o privilégio conferido ao automóvel em políticas de transporte, em que uma única pessoa ocupa o espaço que poderia ser ocupado por muitas num ônibus ou metrô?

– A ideologia do sucesso individual, que leva as pessoas a associarem imediatamente o status social ao carro que possuem, se confunde com a falta de consciência do compartilhamento do espaço público.
– O que se questiona é o próprio sentido de cidadania. Afinal, compartilhar o rico e complexo espaço de uma cidade requer uma postura de respeito pela coletividade, e isso afeta, as escolhas que cada um faz na constituição de seus hábitos cotidianos.

– O avesso disto, que insiste em se reafirmar na realidade, são essas escolhas irracionais que, com máscara de solução individual, tornam-se uma condenação de todos à má qualidade de vida e ao desperdício de recursos. Sabemos que é tempo de mudar.

– Isto não é uma apologia ao abandono do automóvel, mas para que se racionalize o seu uso. Pense nisto durante a sua caminhada costumeiral.

Texto publicado Revista Fórum em junho de 2010 – Resumido – NC Canela – Setembro de 2010

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