A vida sem celular

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O meu celular foi furtado, conta Tom Coelho. Eu terminara de ministrar uma palestra e atendia a alguns participantes, quando alguém subtraiu o aparelho que estava dentro da minha mala executiva. Mais ainda, o meliante, também retirou da minha carteira todo o dinheiro exceto documentos e cartões.
Fui dar por conta do ocorrido uma hora depois. E, honestamente, gostaria de encontrar o protagonista para prestar-lhe toda a minha gratidão!

Simplicidade.
Após comunicar a operadora e bloquear o aparelho,  fui a um shopping para adquirir uma nova carteira. A minha não fora furtada, mas poderia tê-lo sido. E ao analisar seu conteúdo, desprovido de dinheiro, topei com diversos cartões bancários e de empresas, além de documentos de porte não obrigatório – para que carregar tudo isso?
Cheques não são mais utilizados, título de eleitor só tem serventia a cada dois anos, cartões de fidelidade podem ser acessados pelo CPF. Era preciso esvaziar aquela carteira que, de tão magra, precisou ser substituída.
Hoje só carrego a habilitação, o cartão do convênio médico, um cartão do banco. E isso nos conduz a uma importante reflexão: precisamos resgatar a simplicidade.

Estupidez corporativa.
A tarefa de repor o celular, parecia fácil, ao menos para mim, pois eu sabia exatamente o que desejava: o mais barato. Porém, no momento de fazer a habilitação, um problema: o serviço estava bloqueado.
Ocorre que quando fiz o plano corporativo, adquiri também um modem para acessar a rede através de meu notebook. Entretanto, o aparelho não funcionava. Ao acionar a operadora, insistiam que eu deveria procurar o fabricante do modem! Após quase um ano sem solução e pagando por um serviço que não utilizava, cancelei-o. Contudo, a operadora insistiu na cobrança gerando um débito indevido, despropositado e ilegal.
Dentro deste contexto, ou eu pagava por um débito injusto, ou não teria meu número de volta. Fiquei com a segunda opção, entrando para a restrita família “dos sem celular”.
Registre-se a incompetência da empresa de telefonia. Primeiro, ao não reconhecer e buscar solucionar o problema. Segundo, por obstar a habilitação do novo aparelho, perdendo receita e o cliente. Terceiro, por conquistar o direito a uma ação judicial. Não tem jeito: empresas continuam sendo péssimas amantes de seus clientes. Lutam para conquistá-los, mas não em mantê-los.
No celular adquirido habilitei um chip pré-pago. Hoje, mantenho o aparelho desligado, para utilização exclusiva em caso de emergência.

Liberdade.
Vamos deixar claro, adoro tecnologia e também aprecio demais a praticidade, a ponto de instalar uma fechadura digital só para não ter que usar chave para entrar em casa. Estamos nos tornando escravos cibernéticos, com uma dependência patológica da tecnologia.
Acho um despropósito ver como os smartphones tomaram conta do cotidiano, isolando as pessoas do mundo real, virtualizando as relações, minando o diálogo. E você sabe disso, pois está cansando de ver as corriqueiras cenas de pessoas em volta de uma mesa de bar sem conversar, apenas dedilhando em suas minúsculas telas.

– Viver sem celular fortaleceu meu instinto de planejamento, agora agendo compromissos, organizo-me para comparecer, saio com Celular 4antecedência ou comunico previamente um eventual atraso. Trouxe-me segurança e serenidade, pois não sou interrompido em reuniões ou quando estou no trânsito. Permitiu-me a liberdade de ser dono do meu próprio tempo e não refém das demandas de outrem. Ademais, proporcionou-me momentos de intimismo, quando fico imerso em meus próprios pensamentos.
Céticos de plantão e profissionais que notadamente dependem da comunicação instantânea e em tempo integral dirão que é balela.

E eu lhes direi que, ainda assim, precisam aprender a desligar seus dispositivos móveis algumas horas por dia para partilharem da companhia de familiares e de amigos – além de si mesmos.

Texto de Tom Coelho, resumido – NG Canela – Outubro de 2013

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