Achar e perder

libra 4Post (0035)

– Tem coisa que só são achadas para serem perdidas.

– Encontrei em uma casa de câmbio em Montevidéu, uma libra esterlina do ano de 1918. Era perfeita, com retrato do Rei, com aquela perfeição de traços e linhas como em nenhuma moeda de país algum do mundo.– O dono da loja pedia uma pequena fortuna por ela. Eu havia ganhado na véspera no cassino do Parque Hotel, de modo que nem regateei. Paguei por aquela preciosidade o que me pediam – e mais pagaria se me houvessem cobrado. – Pois bem; esses dias resolvi revê-la e não a localizei. – Aconteceram nos últimos anos algumas mudanças – e não é impossível que entre uma e outra ela tenha se extraviado.

– Não me queixo. Já perdi outras coisas, aí incluído um exemplar de Os Lusíadas que comprei num sebo. Creio que foi a primeira vez que li com gosto a narrativa inteira, me demorando no episódio de Inês de Castro. E veio outra mudança e sumiram Os Lusíadas e a linda Inês.

– Desde pequerelógio do vovono ouvia meu avô dizendo: “Este relógio será de meu neto mais velho”, eu, de modo que ganhei a joia ao completar oito anos. Minha mãe entendeu que eu não tinha a idade para portar semelhante raridade, de modo que a guardou. Sucedeu que não demorou e fomos visitados por amigos do alheio. Resultado: levaram o relógio, do qual nunca mais tive notícias.

– A vida é assim. Como falei no início, tem coisas que só são achadas para serem perdidas. Guarde bem as suas conquistas e coisas mais queridas para não perdê-las também.

Texto de Liberato Vieira da Cunha, resumido – NG Canela – Dezembro de 2009

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